terça-feira, 4 de junho de 2013

O Conteúdo Manifesto dos Sonhos e os Pensamentos Oníricos Latentes

2ª Unidade – Resumo de:

O Conteúdo Manifesto dos Sonhos e os Pensamentos Oníricos Latentes (S. Freud – Conferências Introdutórias à Psicanálise, Os Sonhos. 1916, vol. XV, Cap. VII)

Na Conferência VII, Freud teoriza sobre a diferença entre os conteúdos manifestos do sonho e dos pensamentos oníricos latentes. O autor afirma que os elementos constitutivos do sonho não se apresentam em sua forma original, ou seja, substituem algo que está presente na psique do sonhador, porém inconsciente. Freud sinaliza que a técnica da associação livre é utilizada para se desvelar o que está por trás dos elementos confusos de um sonho.
O autor afirma que “... o sonho como um todo constitui um substituto deformado de alguma outra coisa, algo inconsciente, e que a tarefa de interpretar um sonho é descobrir esse material inconsciente.”. (FREUD, 1916, p.118). Desta maneira Freud pontua que o trabalho de interpretação de um sonho deve se basear em três regras, que são:

1)    Não se deve atentar demasiadamente aquilo que o sonho parece nos dizer, seja compreensível ou absurdo, claro ou confuso, de vez que pode não ser o conteúdo inconsciente procurado.

2)    Deve-se restringir ao trabalho de recordar as ideias substitutivas de cada elemento. Não se deve refletir sobre elas, nem considerá-las à priori como relevantes à análise.

3)    Deve-se aguardar até que o material inconsciente surja espontaneamente, na associação livre.

Com estas regras Freud tenta solucionar a questão de que o sonho recordado não é o material onírico latente, mas sim um substituto deformado dele. O autor salienta que esta deformação realizada no conteúdo inconsciente (através dos mecanismos de deslocamento e condensação) não se efetua sem motivo.
Ao pedirmos para que o sonhador associe livremente sobre seu sonho, contando qualquer ideia que lhe surja no pensamento, mesmo que tal conteúdo parece ser sem importância, sem sentido, irrelevante ou desagradável, naturalmente esperamos que este fracasse no que lhe é pedido. O que ocorre é que sabemos da atuação do mecanismo psíquico da Resistência, que tende a manter ocultos os conteúdos mais essenciais do sonho.
Freud postula uma concepção dinâmica da resistência, o que indica que ela pode variar em quantidade, ou seja, existem resistências menores e resistências maiores. Este concepção implica que se a resistência é pequena o conteúdo manifesto do sonho se aproxima do conteúdo latente, por outro lado se a resistência é grande os conteúdos manifestos e latentes distanciam demasiadamente em aparência e importância.
O autor exemplifica estas proposições contando alguns sonhos coletados em casos clínicos:

A)    Mulher que sonho com Deus usando um chapéu de três pontas.
- Durante a interpretação do sonho a mulher lembra que quando criança usava este tipo de chapéu quando à mesa de refeição. Lembra-se de vigiar o prato dos irmãos achando que estes não podiam perceber que ela estava olhando. Associa com o fato de acreditar que Deus é onisciente. Assim associa que o uso do chapéu a deixava onisciente sobre o prato dos irmãos.

B)   Mulher que se mostrava cética ao tratamento, sonhou que muitas pessoas elogiavam um trabalho de Freud sobre Chistes para ela. Lembrava também tratar o sonho de algo sobre “Canal”, porém não se recordava completamente.
- O sonho estava relacionado à um chiste que havia ouvido sobre o Canal da Mancha que liga Inglaterra e França, sendo que no chiste este canal liga o sublime (França) ao ridículo (Inglaterra). O ceticismo ao tratamento é substituído por este chiste no sonho, de maneira que discursa o que a paciente sentia em relação ao tratamento – ridículo e sublime, ao mesmo tempo.

C)    Paciente que sonhou que diversos membros de sua família estavam sentados em volta de uma mesa “Tisch”.
- Na interpretação deste sonho o paciente revelou que possuía amigos de uma tal família chamada “Tischler”, e que a relação familiar entre pai e filho desta famílias se assemelhava muito com a sua própria e a com seu pai.

D)   Um sonhador que estava puxando certa mulher de trás de sua cama.
Revelou em análise sentir-se atraído por ela.

E)    Homem sonhou que seu irmão estava em uma caixa (Kasten).
- trocou a palavra em uma parapraxia, por “armário” (Schrank), dando a entender que seu sentia que seu irmão estava se “restringindo” (Schränkt)

F)    Um homem sonhou que estava escalando uma montanha onde observava uma vista panorâmica.
- Se deu em análise que na realidade o homem associo à seu editor de uma revista (Rundschau), que fora substituída pela imagem panorâmica (Rundschauer).

            Por fim Freud analisa um sonho extenso. Trata-se uma mulher que sonhara estar no teatro com o marido. Este a diz que Elise L. e o noivo, também pretendiam ir, mas só haviam conseguido lugares ruins, por 1 florin e 50 kreuzers. Em análise a mulher relaciona estes sonhos com duas ideias principais à de considerar que seu marido “vale pouco” e a de que esta tal Elise L. está casando muito cedo, como a própria mulher o fez e se arrepende.
            O autor tenta neste texto demonstrar como um conteúdo manifesto substitui de maneira distorcida o conteúdo latente deste sonho. Esta substituição é auxiliada pela Resistência que pode atuar em proporções diversas dependendo da qualidade deste conteúdo a ser omitido.


Maio/2013 - Elaborado por Camila Sanzi e Karina Bueno, Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .



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