quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Projeto de Iniciação Científica e Iniciação

Oi para todos!

Como foram pedidas referências sobre pequisa de iniciação científica durante a aula de Freud III, estou postando aqui o meu projeto de iniciação científica (da maneira como foi aceito) e a própria pesquisa de iniciação científica (como foi aprovada, pelos pareceristas). Optei por postar através de um site visualizador, pois acredito que desta maneira os documentos ficam mais fáceis de manusear, já que juntos contém páginas em excesso e ficariam muito extensos para o formato do blog.

Assim, basta que os interessados cliquem nos seguintes links que serão redirecionados para os documentos.



Para quem está escrevendo um projeto de iniciação científica, seria interessante ler os dois documentos, já que, juntos são um ótimo exemplo de como sua ideia inicial pode ir se transformando. A pesquisa é "viva", e pode te levar por caminhos diferentes dos planejados.

Qualquer dúvida, podem usar o espaço de comentários.

Abraços, Diego.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Resenha do Texto - Observações sobre o Amor Transferencial (Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise III) - 1915

Observações sobre o Amor Tranferencial (Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise III). (1915)

Diego Amaral Penha – 05/12/2011

A Transferência é uma das “facas de dois gumes” da técnica psicanalítica. O bom andamento do tratamento é totalmente dependente de um bom manejo da relação tranferencial. No outro gume temos que as falhas com a mesma produzem armadilhas, em que mesmo os grandes psicanalistas já caíram. A relação analista-paciente é o maior alvo de críticas sobre a técnica da Psicanálise, apesar de nem sempre o crítico saber que dirige sua crítica à Transferência.
Freud inicia o texto afirmando que uma das maiores dificuldades de ser Psicanalista está no manejo da Transferência. Especificamente, o autor decide por falar do amor transferencial, já que desde os primórdios da Psicanálise a relação analista-paciente deu muito “pano para manga”.
Faz uma analogia entre o manejo da Transferência feito pelo analista, com o manejo de substancias químicas, feito por um químico. O psicanalista sabe que está trabalhando com forças explosivas em seus pacientes, e desta maneira atua, ou deveria atuar com extrema cautela e rigor. Assim como os químicos, os psicanalistas trabalham em situações muito delicadas e apesar do alto risco oferecido por tal labor, alguém tem que fazê-lo.
O que está em discussão neste texto é o fato, comprovado pela prática, de que pacientes se apaixonam pelos terapeutas. Os argumentos explicitados têm por objetivo registrar como deve ser pensada e aplicada a técnica analítica em oposição ao senso comum, recheado de valores morais.
Segundo o autor, nestes casos de apaixonamento somos de imediato convocados a nos posicionar a favor da moralidade. Qualquer leigo instruído, como afirma o autor, diria que a solução para este tipo de situação seria o fim da análise. Encerrar-se-ia, caso ambos realmente se amassem e legalmente começassem a se relacionar, ou se o analista nada quisesse com a paciente não deveria alimentar as esperanças de um amor sem futuro, ou patológico. Ainda há a possibilidade de uma terceira alternativa reconhecida como imoral, pois propõem o relacionamento amoroso durante o período de análise.
Freud convoca os psicanalistas para um posicionamento mais crítico. Traz para reflexão que o apaixonamento é induzido pela situação analítica e que a técnica analítica exige a negação da satisfação buscada pelo paciente, porém o amor deve persistir. O princípio fundamental desta situação é que a necessidade e o anseio do paciente devem persistir, como combustível para o trabalho e para as transformações que estão por vir. A angústia vivida pelo paciente enamorado de seu analista é também, a reprodução de uma angústia vivida por ele fora da análise. Portanto, suprimir ou satisfazer as ambições do paciente são péssimos desfechos para o tratamento e não dão vazão nenhuma para o trabalho com a angústia.
O caminho do analista não possui modelo na vida real, assim, não pode ser pautado nas experiências vividas fora da situação analítica. O amor vinculado à pessoa do terapeuta pelo paciente pode ser compreendido por dois vieses que apontam para o manejo deste tipo de afeto. O primeiro aborda o amor tranferencial como ferramenta, utilizada a favor da resistência do paciente. O outro viés relaciona o amor aos protótipos infantis de amor que são revividos na figura do analista.
Ambas as afirmações fazem com que a Psicanálise compreenda que o amor transferencial em pouco se difere do amor da vida real. Ele não é produzido pela resistência, esta se utiliza dele, portanto este “amor” já estava flutuante neste paciente e esse amor fora moldado através das relações afetivas infantis dessa pessoa, o que nada têm em incomum com qualquer amor, segundo a Psicanálise.
Assim temos que se o analista levianamente assumir a posição moralista de encerrar o tratamento, ele cometerá um erro. Se ocorrer a interrupção do tratamento por causa do amor, provavelmente o paciente irá se apaixonar pelo próximo analista ou médico que procurar. Os familiares tendem a querer impedir o tratamento nestas condições. Precisam ser esclarecidos de que o apaixonamento é como se fosse um sintoma, e que diz algo sobre como o paciente estabelece suas relações. Retira-lo do tratamento será deixar este amor oculto e a espera de outro objeto para vincular-se.
O paciente cuja capacidade de amar acha-se prejudicada pelas vivências infantis e pelo recalque, sofre, por tanto suprimir tais sentimentos seria um desuso do espaço analítico. Este espaço pode e deve sustentar este tipo de afeto inadequado aos padrões sociais, pois talvez a Transferência analítica seja a única oportunidade de se viver, enfrentar e elaborar a angústia produzida pelos desejos inconscientes.
De posse da responsabilidade incumbida ao analista, compreendemos que deste amor, o mesmo nada tem do que gabar-se. O apaixonamento é provocado pela situação analítica e não possui relação nenhuma com qualquer atributo do analista, por tanto definitivamente não cabe ao mesmo provocá-lo ou produzi-lo.
Quem dedicar-se a trabalhar com a Psicanálise deverá suspeitar de que o deslocamento do foco da análise do tratamento para o apaixonamento significa que a resistência esta a trabalhar. Em momentos assim [...] a resistência está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a continuação do tratamento, desviar todo o seu interesse do trabalho e colocar o analista em posição canhestra. (p.180) Com esta atitude o paciente tenta rebaixar o analista ao nível de amante, já que se este ceder à tentação será complacente à satisfação do paciente. Ceder ao amor do paciente é satisfazer o objetivo de suas pulsões, e o objetivo da análise não é esse.
O analista deve controlar a Transferência com “rédeas curtas” neste momento, não para assegurar sua proteção contra as ações do paciente, mas para utilizar deste afeto a seu favor. Quanto mais o analista perceba que ele está à prova de qualquer tentação, mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico. (p.184), pois o lugar em que o paciente posiciona o terapeuta na relação transferencial oferece fortes indícios de que lugar o paciente assume em suas relações. Encontramos na Transferência indicações importantes sobre como se estruturou a psique do paciente durante suas vivências infantis.
Freud sublinha, então, que negar o amor tranferencial seria jogar muito trabalho fora. Assim como o terapeuta não se deve retribuir o amor de um paciente, também não deve suprimi-lo. Mas, salienta o autor, de maneira alguma o analista deve ficar no meio termo. Para Freud, impreterivelmente, o analista [...] tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial, repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de modo igualmente resoluto, recusar-lhe qualquer retribuição. (p.183)
A solução está na sinceridade. A questão da sinceridade é ponto crucial de qualquer análise, pois o princípio básico da atuação psicanalítica é de que o paciente deverá priorizar sua sinceridade, inclusive quando esta parecer absurda ou repudiável. Porém a sinceridade apresenta-se como uma via de mão dupla, pois a confiança somente pode ser estabelecida e mantida com a sinceridade do analista. Freud diz que:
Todo aquele que se tenha embebido na técnica analítica não mais será capaz de fazer uso das mentiras e fingimentos que um médico normalmente acha inevitáveis; e se, com a melhor das intenções, tentar fazê-lo, é muito provável que se traia. (182)
Os motivos éticos juntam-se aos técnicos da Psicanálise, já que o analista deve manter sob a regra da abstinência. O não envolvimento pessoal do analista com o paciente visa manter a oportunidade de se ajudar o paciente neste momento decisivo de sua vida. Apesar de assumir-se que o amor sentido pelo paciente seja um amor real, a Psicanálise impõem a seriedade e sinceridade como pressupostos para o favorecimento da terapia, que tem como objetivo a melhora do paciente.
Freud ao final de seu texto escreve que:
O psicoterapeuta analítico tem, assim, uma batalha tríplice a travar – em sua própria mente, contra as forças que procuram arrastá-lo para abaixo do nível analítico; fora da análise, contra opositores que discutem a importância que ele dá às forças instintuais e impedem-nos de fazer uso delas em sua técnica científica; e, dentro da análise, contra as pacientes, que a princípio comportam-se como opositores, mas, posteriormente, revelam a supervalorização da vida sexual que as domina e tentam torná-lo cativo de sua paixão socialmente indomada. (187)
Parece que nesta citação para além das dificuldades de manejar a Transferência e a Contra-transferência, Freud volta suas críticas para o que talvez fosse o que lhe motivará à escrever o artigo.
Nos anos entre 1904 e 1911, Carl Jung envolvera-se em um relacionamento amoroso com Sabina Spielrein, sua paciente. Este “descuido” afetivo, também ocorrera com Josef Breuer durante o tratamento de Berta Pappenheim, em 1882, quando a Psicanálise estava sendo concebida por Freud. Talvez tenhamos nestes dois casos o primeiro e o último “descuido” para com a técnica aceito por Freud, pois em 1915 é publicado o texto aqui abordado.
Apesar da discrição do autor, não podemos negar que, principalmente, estas duas análises conturbadas provocaram em Freud e seus contemporâneos dúvidas quanto à ética e a utilidade da Psicanálise. O texto aqui discutido é apresentado em tom de resposta ou crítica, para além de recomendação.
Recomendações, Freud propõem, pois para a Psicanálise qualquer tentativa de se organizar um manual ou bula que determine que ações os terapeutas devam tomar em cada situação, seria uma falácia. O que o autor, sutilmente, recomenda neste texto é o ponto de equilíbrio próprio que cada analista deve encontrar entre o rigor e a adequação do método psicanalítico.


Referência
FREUD, Sigmund. O Caso Schreber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos: Observações Sobre o Amor Transferencial (Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise III). Rio de Janeiro: Imago, 1915[1914]. (Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud).