Resumo I - Conferência XVI – Psicanálise
e Psiquiatria
vol XVI – Parte III.Teoria Geral das
Neuroses (1917 [1916-1917])
Freud trabalha para a compreensão do fenômeno das neuroses, em decorrência dos
trabalhos já feitos anteriormente sobre os estudos das parapraxias e dos sonhos
O autor não se propõe a dar conferências dogmáticas, ou a suscitar convicções
aos ouvintes, deseja estimular o pensamento e derrubar preconceitos que possam
existir sobre o tema. Sugere que não avaliem o conceito psicanalítico da
neurose como sistema especulativo, já que apresenta características empíricas –
expressão direta das observações.
Expõe o fenômeno da neurose a partir de uma ação sintomática recorrente de
muitos de seus pacientes. Descreve a cena em que muitos deles adentravam em seu
consultório e deixavam ambas as portas abertas. Adverte que este descuido
acontecia apenas quando o paciente estava sozinho na sala de espera,
entretanto, quando pessoas conhecidas o acompanhavam, se assegurava de fechar a
porta para manter o sigilo da conversa.
Assim, a omissão do paciente não é determinada pelo acaso ou por falta de
propósito, é na realidade uma atitude, não destituída de importância do
recém-chegado ao médico. O paciente imagina que chegará à sala e encontrará
muitas outras pessoas, entretanto se depara com a sala vazia. Se sentindo mais
um na multidão, deseja ser ofuscado e intimidado e como forma de fazer com que
o médico pague pelo respeito supérfluo que o oferecia, deixa de fechar a porta.
Sua atitude demonstra seu descrédito de que alguém chegaria à sala de espera
enquanto estivesse em consulta.
A análise desta ação sintomática revela que embora não casual, essa ação teve
um motivo, intenção, sentido e se localiza diante de um contexto mental
específico. Demonstra acima de tudo um processo inconsciente do paciente, de
maneira que nenhum dos pacientes que deixou a porta aberta admitiria tal
desrespeito.
Após a breve análise, Freud conta a observação de uma paciente. O caso contado
por ele remete a detalhes característicos de uma neurose. Psiquiatras, neste
caso, declarariam que se trata de um evento casual e sem interesse psicológico,
porém o sintoma que se impõe através da ação da senhora interessa à
Psicanálise. Ao saber que ele acompanha intenso sofrimento subjetivo e ameaça a
vida comum de uma família.
Enquanto a psiquiatria, em um caso como este, se contentaria apenas com
diagnósticos e prognósticos – incertos, apesar da experiência – e com a
evolução futura, a psicanálise pode ir além. Freud atenta para o fato de a própria
senhora ter forjado a carta que daria motivos ao seu ataque de ciúme, incutindo
na empregada a ideia de enviar a carta anônima. O delírio torna-se independente
da carta, já estava presente na forma de medo (de ser traída) ou talvez desejo. Freud, ainda contando sobre o caso, diz que após duas
sessões a senhora pediu para interromper a análise, alegando sentir-se bem
melhor. Naturalmente disse isso devido à resistência e receio de continuação da análise.
Com apenas duas sessões, Freud acreditou ser possível uma interpretação da ação
patológica de sua paciente. Ela própria estava intensamente apaixonada por um
homem mais jovem, o genro. Talvez não soubesse da dimensão deste sentimento,
por sua posição de esposa e mãe, uma coisa assim tão monstruosa não podia
tornar-se consciente. O desejo ainda existente permanecia inconsciente e
exercia pressão, o alívio se deu, então, através do mecanismo de deslocamento. Imaginar seu marido
traindo-a com uma mulher mais jovem, faria sua consciência se aliviar do peso
de sua própria infidelidade.
Através da interpretação psicanalítica o delírio deixou de ser ininteligível,
pois tinha sentido, motivos, fundamentos e ajustou-se ao contexto de uma
experiência emocional; o delírio foi necessário como reação de um processo
mental inconsciente, o que explica a resistência a todo ataque lógico e
realista; e o fato de o delírio ser da ordem do ciúme demonstra que ele estava
inequivocamente ligado a uma experiência, como base da doença.
Por fim, Freud atenta para uma complementação entre psicanálise e psiquiatria,
uma vez que tratam de aspectos diferentes. A psiquiatria não se utiliza dos
métodos da psicanálise, mas complementa-a e não faz inferências acerca do
conteúdo do delírio.
Março/2014 - Elaborado por Camila
Natal Sanzi da Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .