domingo, 28 de abril de 2013

1ª Unidade – Cinco Lições de Psicanálise. (S. Freud. Vol. XI, 1910.)


   1ª Unidade – Cinco Lições de Psicanálise. (S. Freud. Vol. XI, 1910.)

                       Resumo da Primeira e Segunda Lições de Psicanálise.

PRIMEIRA LIÇÃO

Conforme prefácio de Durval Marcos, as cinco lições de psicanálise foram pronunciadas em 1909 na Clark University (Estados Unidos) por ocasião do vigésimo aniversário da instituição. Elas constituem a primeira exposição sistemática da teoria psicanalítica e tiveram grande importância para Freud, visto que devido ao papel da sexualidade na etiologia das neuroses, suas ideias encontravam resistências no “velho mundo”. “Na Europa, escreveu Freud, eu me sentia como proscrito; ali me via acolhido pelos melhores como igual. A psicanálise não era mais, portanto, uma concepção delirante, mas se tornara uma parte preciosa da realidade.”[1]

Freud inicia seu pronunciamento tomando como exemplo o caso Anna O. (1880-1882), paciente tratada pelo médico vienense Joseph Breuer. Embora Freud não tenha participado diretamente do tratamento, este foi minuciosamente descritos nos Estudos Sobre a Histeria (1895) em colaboração com Dr. Breuer e constitui o caso princeps da psicanálise. É a partir deste caso que se constituem as bases para a teorização sobre os mecanismos da neurose, assim como da construção do método psicanalítico.

Os sintomas histéricos e suas relações com as vivências do doente.
- Sintomas de Anna O.
·                     Paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia, que se estendia ao lado esquerdo;
·                     Perturbações oculares e alteração da visão;
·                     Dificuldade em manter a cabeça erguida;
·                     Tosse nervosa intensa;
·                     Repugnância pelos alimentos;
·                     Impossibilidade de beber por diversas semanas
·                     Dificuldade de expressão verbal;
·                     Estados de ausência (absence), de confusão, de delírio, de alteração da personalidade.

Breuer havia anotado as palavras que Anna O. murmurava durante seu estado de ausência. Pondo-a sob hipnose, repetiu estas palavras para incitá-la a fazer associações. Desse modo, a paciente pôs-se a reproduzir as “criações psíquicas” que a dominavam durante os estados de ausência.
         Depois de relatar as fantasias, sentia-se aliviada.
         O bem-estar, porém, durava apenas algumas horas e um novo estado de ausência voltava no dia seguinte.
         Essas alterações psíquicas eram resultado de fantasias intensamente afetivas.
         Anna O. deu o nome de “tanking cure” (cura de conversação) ao tratamento e o qualificou como “chimney sweeping” (limpeza de chaminé). Os autores chamaram o método de catártico.

No decorrer do tratamento, no entanto, verificou-se que, se na recordação da ocasião e do motivo do aparecimento do sintoma houvesse também exteriorização afetiva, ao lugar do alivio temporário, o sintoma desapareceria. Essa hipótese foi levantada quando a paciente, depois de um longo período em que não conseguia tomar líquidos, exteriorizou (sob hipnose) sua repugnância ao recordar da cena traumática em que não seguira manifestar seu sentimento; depois disso a paciente conseguiu tomar água.
A esse episódio seguiram-se as seguintes hipóteses que foram verificadas em outros sintomas:
·                     Os sintomas eram resíduos de experiências emocionais (traumas psíquicos);
·                     Seu caráter específico estava relacionado com a cena traumática.
·                     Nem sempre era um único acontecimento que causava o sintoma; na maioria dos casos era um conjunto de vários traumas;
·                     Surgiam a partir de poderosas emoções que não eram descarregadas por palavras ou ações (via normal), sendo assim, subjulgadas. (essas emoções provinham do tempo em que se dedicava ao pai doente).
  Cãozinho da dama de companhia bebendo num copo;
  Alucinação da serpente no leito do pai;
·                     Essas emoções “enlatadas” encontravam duas vias anormais de expressão:
  Carga contínua da vida psíquica
  Insólitas inervações e inibições somáticas (conversão histérica).
·                     Onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma.

SEGUNDA LIÇÃO

Freud toma a divisão da mente (estados inconscientes e estados conscientes) e a dissociação da personalidade como ponto central da teoria. Conta que inicialmente utilizou a hipnose, já que esta era uma exigência do método catártico que Breuer praticava. No entanto, a constatação de que nem todas as pacientes eram passíveis de hipnose, fizeram-no abandonar essa técnica.
Assim, procurou agir mantendo o doente em seu estado normal de consciência e incentivando-o a falar sobre tudo que recordava, a fim de estabelecer relações entre as cenas patogênicas esquecidas e os sintomas. Fazia isso, pondo a mão sobre a fronte do paciente e dizendo que a recordação exata seria a que surgisse nesse exato momento. Freud abandonou essa técnica, que era extenuante e inadequada, contudo tirou algumas conclusões:
·                     As recordações esquecidas não se haviam perdido, mas uma força as detinha obrigando-as a permanecer inconscientes;
·                     Essa força que se opunha a revelação das recordações, Freud chamou de resistência.
·                     Essa mesma força seria a responsável por anteriormente ter expulsado as lembranças da consciência. A esse processo, Freud deu o nome de repressão (recalque).
·                     A repressão (recalque) era motivada por uma incompatibilidade entre uma ideia e o ego do doente.
“tratava-se em todos os casos do aparecimento de um desejo violento mas em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas da própria personalidade.”

·                     A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do conflito despertavam desprazer.

Freud oferece um exemplo muito ilustrativo deste conflito. Uma paciente sua, tinha uma simpatia particular pelo seu cunhado que se mascarava por disfarce de ternura familiar. Quando sua irmã veio a falecer, ocorreu-lhe uma ideia: “ele agora está livre, pode esposar-me.” Essa ideia denunciava à consciência, seu amor pelo cunhado e foi logo recalcada pelos seus próprios sentimentos de revolta. Após isso, a jovem adoeceu com graves sintomas histéricos.

Freud chega a uma convicção sobre a formação dos sintomas:
·                     O recalque das ideias que estão ligadas ao desejo, não funcionava.
·                     A ideia desejosa continuava a existir no inconsciente.
·                     Essa ideia disfarçada (sintoma) se lançava à consciência.
·                     Como ideia está disfarçada, fica protegida do recalque do ego, no entanto dá lugar a um sofrimento “interminável”.
·                     Para que se dê a cura, é necessário desfazer consideráveis resistências a fim de que o material reprimido possa alcançar a consciência. A partir disso e com orientação do médico é possível encontrar soluções:
  A personalidade do paciente se convence de que repelira o desejo sem razão e consente em aceitá-lo total ou parcialmente;
  ou, este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado (sublimação);
  ou, reconhece como justa a repulsa e atinge o controle consciente do desejo.

Abril/2013 - Elaborado por Marcela Duarte e Marina Monteiroda Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .



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