sábado, 20 de agosto de 2011

Filmes de Terror e Psicanálise: Um esboço sobre os mecanismos psíquicos subjacentes a espectadores.

Filmes de Terror e Psicanálise:
Um esboço sobre os mecanismos psíquicos subjacentes a espectadores.

Diego Amaral Penha
Prof.ª Drª Ana Cristina Marzolla


RESUMO
O presente trabalho elabora um esboço na tentativa de explicar a fascinação que algumas pessoas têm por filmes de terror. Este tipo de filme tem como premissa incomodar, assustar e repugnar quem os assiste, assim a existência de pessoas que gostam deles é contraditória. A pesquisa busca construir uma hipótese para satisfatoriamente responder quais são mecanismos psíquicos responsáveis pelo ‘gostar’ de filmes de terror. Para tanto, foram utilizados trabalhos de Sigmund Freud. O esboço constitui-se por um percurso reflexivo que se inicia na compreensão de que imagens assustadoras estão relacionadas a conteúdos recalcados. Em seguida, verifica que estes conteúdos recalcados em algum momento produziram sentimentos desprazeros e foram reprimidos. Por último, trata de explicar como imagens eliciadoras de desprazer podem atuar a favor do princípio de prazer.

Palavras-Chave: Filme, Terror, Psicanálise.

Abstract
This paper elaborates a draft in an attempt to explain the fascination that some people have for horror movies. This type of film is premised harass, frighten and repel those who watch them, so the existence of people who like them are contradictory. The research seeks to build a hypothesis to satisfactorily answer psychic mechanisms which are responsible for someone to 'like' horror film. For this, we used the work of Sigmund Freud. The outline is constituted by a reflective journey that begins on the understanding that scary images are related to repressed contents. Then checks that these repressed contents, at some point, were produced by unpleasant feelings that were suppressed. Finally, explain how this iseliciting images of displeasure can act in favor of the pleasure principle.

Keywords: Film, Horror, Psychoanalysis.

INTRODUÇÃO
Ao sentarmos em uma poltrona confortável para assistir um filme, olhamos fixamente para a tela em branco que logo estará nos transportando para um mundo fantástico. Queremos viver o ator, queremos nos aventurar por lugares desconhecidos. Buscamos o prazer.
O meio cinematográfico é uma das maiores fontes de entretenimento do século XXI. Tratando-se de falar sobre filmes demanda-se diferenciá-lo de cinema. É preciso compreendê-los como fenômenos distintos, mas interligados. Existem múltiplas maneiras de defini-los, porém uma delas produz uma reflexão interessante que explora a função e o objetivo de ambos.
Partindo deste meu ponto de vista, o cinema desde sua mais precoce aparição tem como objetivo atingir o imaginário humano, confundindo ficção com realidade. A função da sétima arte está extremamente ligada com a reação dos espectadores. Assim como a literatura, o cinema pode ser compreendido como arte. Nele está contida a técnica para confecção de seus produtos.
Por outro lado, o filme é veículo da fantasia. Para ele não existe realidade, mas há a ambição de se contar uma história. Mesmo em documentários e em filmes históricos, o filme tem como função contar a sua versão. Não se compromete com a realidade, e sim com a sedução. Tal como livros, atua como obra e é o rio condutor dos sentimentos dos espectadores rumo ao oceano de deleite.
Os filmes de terror permeiam a história do cinema, com clássicos que marcam gerações. São os responsáveis por incontáveis noites de pesadelo. Quem nunca teve uma imagem aterrorizante gravada na memória? Mesmo que nunca assista filmes deste tipo, só de saber que eles existem já faz com que a imaginação produza nossos próprios thrillers.
Assim como em livros e contos de terror, tais filmes estão marcadamente presentes na cultura, pois cativam o imaginário da população. Fazem com que as características mais hediondas da realidade e ficção transformem-se em uma forma de entretenimento. E talvez nenhum outro gênero possa gabar-se como pode o terror em relação a seus assíduos fãs. Apreciadores do cine-terror movimentam as salas de cinema, basta conferir, sempre há filmes para aterrorizar a platéia.
Há uma tendência no homem, que vive no século XXI, de valorizar elementos como beleza, harmonia, alegria, saúde, sanidade, felicidade e benevolência. Não necessariamente trata-se de uma tendência particularmente nova, mas em certos aspectos o homem moderno tornou-se obcecado por estes elementos.
Porém, existem os elementos opostos a estes, que em conjunto aos primeiros produzem um retrato síntese de nossas sociedades. Valorizamos sim todas as qualidades e belezas humanas, mas caímos em tentação e somos corrompidos. Há espaço para o horrível, o caos, a morbidez, a pestilência, a insanidade, a tristeza e a vilania.
Como então pessoas conseguem gostar de filmes medonhos e cruéis? Que mecanismos estão por trás de um espectador apreciador de filmes de terror? De onde vem este terror?

METODOLOGIA
A Psicanálise sendo um método de investigação tem como objeto de estudo o inconsciente e os seus mecanismos. Essa instância abrange conteúdos não-conscientes, ou seja, conteúdos que dizem respeito à vida psíquica de um indivíduo que podem ser acessados e compreendidos com o auxílio do método psicanalítico. Portanto, quando assumimos não conhecer o porquê alguém poderia gostar de filmes de terror, podemos inferir que talvez o motivo seja um tramite que envolveria mecanismos inconscientes e conscientes da psique.
Sigmund Freud (1856-1939) foi o criador da psicanálise e ainda hoje é o grande referencial teórico para qualquer uso da teoria. Disponho para esta pesquisa de trabalhos do autor, que abarcarão os conceitos necessários para satisfatoriamente poder constituir uma idéia que possibilite responder a questão elaborada para esta pesquisa.

O ASSUSTADOR
Quando assistimos a um filme deste gênero nos deparamos com o sentimento de estranheza que este nos causa, seja em detrimento de algo horrível e repugnante esteticamente, seja pela ansiedade causada pela aflição do personagem. Recorri ao texto de Freud (1919) O Estranho.
Neste texto, Freud primeiramente busca na palavra ‘estranho’ (unheimlich, no alemão) o significado que a ela se liga historicamente. O autor, após um grande estudo linguístico chega à conclusão de que o significado de tal palavra evolui de uma maneira em que aproxima ‘unheimlich’ de seu oposto ‘heimlich’. O estranho, então, tem um significado duplo: refere-se tanto ao que é assustador como se aproxima do seu antônimo, isto é, tem um sentido que se refere ao que é familiar.
Secundariamente o autor reúne coisas, impressões sensoriais, experiências e situações de estranheza, tentando achar seus pontos em comum. Freud afirma então que [...] o estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar. (FREUD, 1919, p.238)
Freud deixa claro que quando destrinchamos algo que nos é assustador chegaremos a alguma estranheza relacionada com uma fantasia infantil. De fato, não é possível determinamos quais cenas ou personagens de um filme produzirão medo em alguém, mas podemos afirmar, que o motivo pelo qual tal imagem é estranha decorre de a mesma lhe ser familiar, mas pela consciência rejeitada pelo processo de recalque. Rejeitada no sentido de que não fora esquecida, nem negada, mas apresenta-se como algo externo, algo que “não faz parte de mim”.
No texto A Cabeça de Medusa (1940 [1922]), Freud debruçou-se sobre o tema mitológico da cabeça decapitada da Medusa de maneira análoga a como propomos investigar o “estranho” em um filme.
O “decapitar” possui a mesma significação psíquica de “castrar”, da mesma maneira como teria o “cortar”, “esfaquear”, “estripar” e “amputar” presentes em filme de terror. Por isso, não de maneira acidental, temos inúmeros exemplos de figuras castradoras neste gênero de filme: Jason e seu facão ; Freddy Krueger e suas garras afiadas ; Leatherface e a moto-serra ; Normam Bates e faca de cozinha , que acabam por potencializar a angústia de castração do espectador, que assim poderá vivenciar a famosa cena do assassinato de Marion Crane no banheiro do Motel Bates, por exemplo, como uma cena estranha e motivadora de terror.

O GOSTAR
Na tentativa de utilizar apenas termos científicos perdemos a oportunidade de abordar temas e termos cotidianos que expressam ricas informações sobre como se relacionam os humanos. Freud não abordou o termo ‘gostar’ diretamente em suas obras, mas ao falar de desejo e prazer circulou pelo seu significado. O ‘gostar’ pode ser substituído por curiosidade, desejo, prazer, interesse ou atração, porém acredito que se assim for feito, se perde a complexidade do termo. Para tanto, opto por mantê-lo.
O ‘gostar’ provavelmente está relacionado com o prazer e com o alívio de tensão libidinal. Trata-se de um dado momento gravado como prazeroso. Mantém-se na memória como algo a ser revivido, pois é ‘gostoso’. Para Freud, [...] um sentimento de tensão tem de trazer em si o caráter de desprazer, (FREUS, 1905, p.198), ou seja, o acúmulo de tensão nos passa a impressão de ser desprazeroso, caso a tensão não seja eliminada. Esta idéia parte do pressuposto de que se a busca para realização do desejo tem como gatilho a tensão sexual, esta estará relacionada e emparelhada à satisfação, que é tomada como prazer. Desta maneira a satisfação agiria como eliminação do desprazer de tensão acumulada. Estas afirmações vão em direção a constatação de que prazer e desprazer, pelo menos no que concerne a tensão sexual, estão complexamente relacionados. Mas o que tem Freud a nos dizer sobre o desprazer?

GOSTAR DO ASSUSTADOR
Ao tratar do desprazer, Freud (1920) inicialmente o associa ao ponto de visita econômico da psique. Para o autor, em sua metapsicologia, o desprazer é produzido pelo acúmulo de tensão devido ao aumento de excitação, presente na mente e corpo. Caso aconteça desta excitação diminuir, o individuo sentirá prazer devido à eliminação da tensão desprazerosa. (FREUD, 1920, p.17-18)
Para o autor, o desprazer perceptivo corresponde à maior parte dos desprazeres que experimentamos, e acredito ser este o desprazer sentido por um espectador que assiste ao filme de terror. Ele explica que:
Este desprazer pode ser a percepção de uma pressão por parte de instintos insatisfeitos, ou a percepção externa do que é aflitivo em si mesmo ou que excita expectativas desprazerosas no aparelho mental, isto é, que é por ele reconhecido como ‘perigo’. (FREUD, 1920, p.21)
Aqui definimos que o sentimento de estranheza compõe a maior parte dos desprazeres experimentados pelas pessoas. O que nos falta agora é responder quais mecanismos estão por trás da possibilidade de obtenção de prazer através destes meios.
Há mais para se falar sobre os sentimentos de prazer e desprazer na dinâmica psíquica. Freud faz duas ressalvas importantes na compreensão desta questão:
Primeiramente, os sentimentos de prazer e desprazer (que constituem um índice do que está acontecendo no interior do aparelho) predominam sobre todos os estímulos externos. Em segundo lugar, é adotada uma maneira especifica de lidar com quaisquer excitações internas que produzam um aumento demasiado grande de desprazer; há uma tendência a tratá-las como se atuassem, não de dentro, mas de fora, de maneira que seja possível colocar o escudo contra estímulos em operação, como meio de defesa contra elas. (FREUD, 1920, p.40)
Refere-se aqui ao mecanismo de projeção em sua natureza de defesa psíquica. Devo induzir o raciocínio do leitor para uma reflexão chave desta pesquisa. Se os sentimentos de prazer e desprazer que são internos predominam sobre os estímulos externos, devemos duvidar da seguinte afirmação: “os espectadores gostam de filmes de terror, pois sentem prazer advindo dos estímulos presentes nestes, tais como som, imagem e susto.”. Freud foi preciso ao afirmar que o que é assustador está relacionado com o recalque, já que o medo e o possível prazer proporcionado por ele dependem de como este indivíduo externalizará o que lhe aflige. Os filmes de terror constroem situações e personagens que provavelmente assustam a maioria de seus espectadores. Isto está relacionado com a cultura, já que para participar de bom grado da sociedade todos os indivíduos abdicam de seus desejos infantis, desta maneira o que a maioria das pessoas recalca, em geral, são conteúdos relacionados aos mesmos temas, por exemplo, a vivência infantil edípica. Desta maneira, a premissa de Freud é plausível de ser aplicada no contexto deste trabalho, ou seja, o estímulo aterrorizante está presente, mas ele só será vivido como prazer ou desprazer internamente. Exteriormente o estímulo será alienado da consciência pela projeção dos conteúdos recalcados.

CONCLUSÃO
Não posso ignorar que ao falar de prazer e desprazer, pareço estar trilhando um caminho de raciocínio redundante. Na tentativa de explicar esta questão optei por esboçar os mecanismos psíquicos presentes em espectadores de filmes de terror. Assistir a um filme e voltar a assisti-lo, ou mesmo assistir outros filmes do mesmo gênero, precisa estar relacionado à promoção de prazer.
Procurei explicar como as imagens incomodativas de terror são recebidas por espectadores, porque são percebidas como tais e como pode alguém satisfazer-se nelas. Devo admitir que talvez esta linha de raciocínio seguida por mim não é a única maneira de se tentar responder esta pergunta, muito menos a mais simples. Portanto, acredito que sintetizar os principais argumentos se faz necessário neste momento. Precisamos, por agora, nos apropriar de qualquer filme de terror. Esta escolha é sobre alguma imagem que por um determinado período nos produziu medo. Guardemos a imagem aflitiva e tentemos compreendê-la a partir de meu esboço.
Esta imagem não necessariamente é uma imagem de terror para outrem. Assim, não me complico quando afirmo que, de fato quem está projetando o terror nesta imagem é o próprio espectador. Não negarei que esta imagem provavelmente fora construída para assustar, mas ninguém pode garantir qual efeito ela terá em um potencial espectador. Interessante relacionar a projeção realizada pelo espectador, com o que é mostrado num filme. Em última análise o filme não passa de uma projeção na tela.
Ao assumir que o grande caráter assustador desta imagem é projetado por nós mesmo, podemos facilmente aceitar a noção de Estranho, proposta por Freud. Algo que é projetado, ou seja, imposto pelo espectador na imagem do filme, só pode estar localizado no inconsciente do mesmo. De fato o que está lhe proporcionando o terror é algo familiar, em algum momento recalcado.
O fato de este conteúdo estar no inconsciente enuncia que fora recalcado em algum momento anterior. O recalque atua a favor do ego e de sua proteção. Desta maneira, confirma-se que no momento em que se viu necessário o recalque de tal conteúdo, ele ameaçava a integridade do ego do espectador. Provavelmente por ser repudiado no meio social. Somente poderemos descobrir qual é o conteúdo que está sendo projetado após uma profunda análise de tal imagem, assim como fez Freud em A Cabeça de Medusa. A associação livre é um instrumento que revelaria o que há por de trás desta imagem.
Para ser recalcada está imagem teve de produzir tensão libidinal, provocando desprazer em algum momento. Provavelmente atrelada à pulsão sexual, ela buscou através do organismo sua realização. Mas apesar de sua realização aliviar a tensão, esta imagem, por alguma razão, ameaçava a integridade do ego. Se a aparência e as ambições desta imagem fossem manifestadas, o resultado seria desprazeroso para a psique. A essência do terror é exatamente esta: provocar medo no momento. Cabeças giratórias e sopa de ervilha não seriam tão eficazes nos cinemas hoje em dia. Os filmes de terror mais comentados e mais assustadores de cada época são os melhores representantes de conteúdos infantis recalcados e extremamente angustiantes para a maioria dos espectadores. Quando se delimita a maioria do público espectador como neuróticos – só assim garantiremos o recalque – também se precisa definir o momento histórico em que eles vivem. O tipo de sociedade em que vivem os espectadores atua de maneira relevante para quais imagens e conteúdos serão considerados execráveis.
Dado interessante este, já que o seu reverso também é válido. Ao dissecarmos os filmes de terror mais representativos de um momento histórico, encontraremos lá uma pista de quais são os conteúdos, imagens ou conflitos que precisaram ser recalcados pelos espectadores.
Por exemplo, na população americana que havia a pouco assistido duas bombas atômicas explodirem, tinha como um de seus maiores temores a dizimação instantânea pelas mãos da tecnologia avançada. Na década de 50 os filmes de terror mais representativos nos EUA eram: O Cadáver Atômico (1955), Plano 9 do Espaço Sideral (1958) e Invasores Invisíveis (1959). Estes remontam o temor em relação ao Holocausto, à radioatividade, à guerra e a impotência humana em relação à tecnologia.
Já nos anos 60, Martin Luther King e John F. Kennedy são assassinados em 1968 e 1963, respectivamente. A ‘Família Mason’, liderada por Charles Mille Mason, massacrou duas famílias de Bel Air – Los Angeles em 1969. Foi uma década que os jovens reivindicavam a paz, ao mesmo tempo em que a violência amedrontava a população em cada esquina. Psicose (1960), O Bebê de Rosemary (1968) e A Noite dos Mortos Vivos (1968), são exemplos do medo correspondente desta época. Medo da vizinhança, do dia-a-dia, do que vem de dentro e do fracassado ideal de família americana.
Assim quando optamos por assistir aquele filme que nos incomoda tanto, provocamos voluntariamente o aumento de tensão libidinal. A pulsão de morte proporciona para a psique incentivo suficiente para que o ego disponha-se ao desprazer do aumento de tensão. Como no masoquismo, o espectador se expõe à tortura psíquica de postar-se diante do que lhe aflige. Desta maneira, a quantidade de tensão no aparelho se eleva. Quando o momento de pavor ameniza-se, a tensão por consequência se esvai proporcionando para o organismo uma sensação prazerosa.
Porém, afirmar que o prazer nestes filmes é obtido pela brusca diminuição da tensão, não explica por quais motivos o aparelho psíquico escolheria um desprazer inicial para satisfazer-se posteriormente. Mas é de fácil reconhecimento que a postergação do prazer em conjunto com a tolerância ao desprazer temporário não é assunto obscuro para Psicanálise. É da natureza do aparelho psíquico portar-se desta maneira. O que posso neste momento afirmar é: se em um dado momento uma pessoa optou, pela primeira vez, sujeitar-se ao terror em um filme, e de alguma maneira isto proporcionou prazer, existem altas probabilidades de que essa pessoa volte a assistir a um filme de terror.
A grande pergunta que se forma aqui é: qual a diferença entre um aparelho psíquico que se submete a este processo e um que o rejeita? Não tenho ambição de responder a esta pergunta. Trabalhos posteriores poderão aprofundar-se neste tema, mas posso fazer alguns apontamentos no sentido de tentar sustentar meu esboço. Apesar de ser obviamente prazerosa a diminuição de tensão após o sentimento de medo, continua sendo um desafio ao ego enfrentar seus medos e conflitos. Duas reflexões se fazem aqui possíveis. Pessoas que experimentam as sensações advindas de um filme de terror precocemente podem conseguir, com algum tempo, apenas repetir o processo, sem que este cause muitos danos à integridade do ego. A outra reflexão relaciona à tolerância de certas pessoas a estes filmes. Com a elaboração de suas questões mais profundas a intensidade da experiência diminui, ou seja, o medo do estranho só é extremamente angustiante enquanto ele se mantiver como estranho, bem longe de sua faceta familiar.
O esboço por mim apresentado abre diversas linhas de raciocínios que não cabem aqui explicitar. Acredito que os mais relevantes foram apresentados nos parágrafos anteriores. As conclusões a que cheguei nesta pesquisa podem parecer ser redundantes e obvias, mas é no percurso teórico pelo qual percorri que este esboço tem o seu mais alto valor. A meu ver, o grande trunfo de qualquer pesquisa não é responder com objetividade suas questões, mas abrir caminho para que mais e mais pesquisas possam ser feitas. A psique precisa ser uma fonte inesgotável de incertezas para que valha a pena estudá-la.

REFERÊNCIAS
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FREUD, Sigmund (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, Sigmund (1919). O Estranho. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, Sigmund (1920). Além do Princípio do Prazer. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, Sigmund (1921). Psicologia de Grupo e A Análise do Ego. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, Sigmund (1940 [1922]). A Cabeça de Medusa. In: Edição Standart Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
INVASORES INVISÍVEIS. Escrito por Samuel Newman. Dirigido por Edward L. Cahn. EUA: Robert E. Kant Productions, 1959. (67 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
O BEBÊ DE ROSEMARY. Escrito por Ira Levin e Roman Polanski. Dirigido por Roman Polanski. EUA: Willian Castle Productions, 1968. (136 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
O CADAVER ATÔMICO. Escrito por Curt Siodmak. Dirigido por Edward L. Cahn. EUA: Clover Productions, 1955. (69 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
O EXORCISTA. Escrito por Willian Peter Blatty. Dirigido por Willian Friedkin. EUA: Warner Bros, 1973. (122 min): DVD, NTSC, Legendado. Port.
O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA. Escrito por Kim Henkel, Tobe Hooper e Scott Kosar. Dirigido por Marcus Nispel. EUA: New line Cinema, 2003. (98 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
MEZAN, Renato. Pesquisa em Psicanálise Algumas Reflexões. Jornal de Psicanálise, São Paulo, 39(70): 227-241, jun. 2006.
PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL. Escrito e dirigido por Edward D. Wood Jr. EUA: Reynolds Pictures, 1959. (79 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
PSICOSE. Escrito por Joseph Stefano. Dirigido por Alfred Hitchcock. EUA: Universal Home Video, 1960. (109 min.): DVD, NTSC, Legendado. Port.
SEXTA-FEIRA 13. Escrito por Victor Miller e Ron Kurz. Dirigido por Sean S. Cunningham. EUA: Paramount Pictures, 1980. (95 min.): DVD, NTSC. Legendado. Port.

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