domingo, 31 de março de 2013

As Resistências à Psicanálise (1925 [1924])



Freud I - RESUMO - 1ª Unidade
 As Resistências à Psicanálise (1925 [1924]) vol. XIX Obras Completas de Sigmund Freud.
           

 - O texto parte da necessidade de Freud em responder às mazelas proferidas contra a psicanálise.
- O autor discorre sobre a tendência dos humanos de refutar uma novidade, através de dois tipos de resistências - intelectuais e emocionais.
- Freud lançou mão de suas construções sobre uma nova abordagem de tratamento para as psiconeuroses – a psicanálise que provocou inúmeras resistências, principalmente da comunidade médica de seu tempo.
- Medicina encontrou dificuldade de identificar as causas biológicas das psiconeuroses, principalmente da histeria. Isto levou Freud a buscar, nos próprios sintomas, caminhos que indicassem as causas psíquicas das enfermidades.
- A metodologia de tratamento assumida pelo autor (associação livre e atenção flutuante) foi recebida com indiferença e antipatia pelos médicos que acreditavam que a histeria não passava de uma impostura (fingimento) e a psicanálise uma atuação mística.
- Apesar de os filósofos estarem acostumados a lidar com conceitos abstratos, a psicanálise também encontrou resistências na comunidade filosófica. A concepção de mente, ou aparelho psíquico proposta pela psicanálise se difere essencialmente da concepção filosófica.
- Para a maioria dos filósofos, segundo Freud, o aparelho mental restringe-se aos fenômenos conscientes, pois a filosofia não possui familiaridade com material clinico de investigação que levou os analistas a conceberem a ideia de inconsciência.
- Tanto a medicina quanto a filosofia consideram os sonhos, delírios e alucinações como fenômenos inexpressivos, ignorando completamente a atividade inconsciente latente e pulsante na constituição de tais fenômenos.
- Porém não podemos conceber a psicanálise como saber intermediário entre a medicina e filosofia. (ver p. 243, da edição Standard das obras completas, Vol. XIX).
- As resistências que tratavam de agredir a teoria psicanalítica são consideradas por Freud como motivadas por forças emocionais.
- Inicialmente os analistas encontravam nos materiais clínicos indícios que apontavam para a constatação de que conflitos relacionados à sexualidade dos pacientes estavam intimamente relacionados aos sintomas que prejudicavam os mesmos. Com o tempo a teoria foi sendo lapidada no sentido de identificar a sexualidade não mais como só “o ato sexual”, mas sim como um impulso que direcionava os humanos para a união, amor, vínculos e prazer (Eros de Platão)
- A fervorosa oposição a tais descobertas propostas por Freud, foi justificada pelo autor como defesas contra os apontamentos – dolorosos – realizados pela psicanálise.
- O autor diz que a civilização humana é sustentada por dois pilares – o controle das forças naturais e a restrição aos instintos.
- A psicanálise pontua que na mente humana há a primazia dos impulsos inconscientes às forças repressoras da consciência. Portanto poderosos sentimentos e certezas sobre o homem foram feridos pela teoria psicanalítica.
- Às resistências à psicanálise, principalmente às desmedidas e agressivas, são julgadas pelo autor construídas a partir da dolorosa ferida narcísica acometida pela teoria – o homem não controla a si mesmo, mas sim é controlado por sua natureza.
- Freud aponta está como sendo a terceira ferida narcísica sofrida pela humanidade, sendo que a primeira fora feita por Nicolau Copérnico, quando forjou a teoria heliocêntrica (golpe cosmológico ao narcisismo). A segunda dói realizada por Charles Darwin e sua teoria da evolução das espécies (golpe biológico ao narcisismo). Por fim o golpe psicológico ao narcisismo, foi realizado pelo próprio Freud, ao teorizar uma psicologia do inconsciente, a psicanálise.




Março/2013 - Elaborado por Camila Sanzi e Karina Bueno da Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .

quarta-feira, 13 de março de 2013

Uma Breve Descrição da Psicanálise (1924 [1923])


Freud I - RESUMO - 1ª Unidade
Uma Breve Descrição da Psicanálise (1924 [1923])
vol. XIX Obras Completas de Sigmund Freud.
           
- A psicanálise nasceu com o século XX – A interpretação dos sonhos, 1900. Ela não caiu pronta dos céus. Portanto, devem-se entender as influências que determinaram sua origem e não desprezar circunstâncias de sua época.
- Inicialmente, Freud tinha o objetivo de compreender a natureza das chamadas “doenças nervosas funcionais”, já que o modelo médico para o tratamento dessas doenças baseado em fatos químicos-físicos e patológico-anatômicos estava impotente.
- Nesta época ainda, os médicos não sabiam o que fazer com o fator psíquico e nem podiam entendê-lo, deixando-o aos filósofos, místicos e charlatões.
- Na década de 1880, Freud entrou em contato com a hipnose e três lições puderam ser extraídas:
            1) Tinham-se provas de que influências mentais poderiam ocasionar mudanças somáticas;
            2) Impressão mais clara de que processos mentais inconscientes existiam. Pela primeira vez, o inconsciente se tornou algo concreto, tangível e sujeito a experimentação.
            3) um auxílio poderia ser dado ao estudo das neuroses, principalmente da histeria.
- Charcot, um médico parisiense, suspeitou através de seus experimentos, que certas paralisias histéricas poderiam ser ocorridas após um trauma. Assim, ao sugerir um trauma sob o estado hipnótico, o paciente apresentava paralisias do mesmo tipo que as histéricas, propondo que influências traumáticas poderiam ter um desempenho na produção dos sintomas.
- O médico vienense Breuer, em 1881, pôde, com o auxílio da hipnose, estudar e reconstituir a saúde de uma jovem que sofria de histeria. Esse caso retém sua significação única para nossa compreensão das neuroses até o dia de hoje.
- Anna O. ficou enferma enquanto cuidada de seu pai doente, o qual era muito ligada. Breuer estabeleceu que todos os sintomas da jovem estavam relacionados a esse período de enfermagem e poderiam ser explicados.
- Surge, então, a característica universal dos sintomas: situações que envolviam um impulso para uma ação a qual não fora levada a cabo, mas que por algum motivo, foi reprimida. Então, esse impulso é “deslocado” para outra direção, constituindo o sintoma.
- O procedimento terapêutico utilizado por Breuer era induzir o paciente sob hipnose a relembrar os traumas esquecidos e reagir a eles afetivamente. Quando isso era feito o sintoma desaparecia temporariamente. Ou seja, os sintomas histéricos surgiam quando o afeto de um processo mental investido era impedido de seguir seu curso normal pela ação de processos defensivos, e assim, era desviado para uma inervação somática. Mas, poderiam seguir outra direção se a experiência fosse revivida sob estado hipnótico.
- Esse método terapêutico de relembrar o momento traumático e reviver o conteúdo afetivo nele contido era chamado de catarse. Tal método foi precursor imediato da psicanálise e todo o estudo está publicado em Estudos sobre Histeria, 1895.

II
- Após o término da parceria entre Breuer e Freud, este decidiu abandonar a hipnose por duas razões:
            1) Ele não conseguia induzir hipnose em um número suficiente de pacientes
            2) Estava insatisfeito com os resultados terapêuticos da catarse sob hipnose, pois eram de curta duração.
- Freud decidiu substituir a hipnose pela associação livre para restituir à lembrança do paciente o que havia esquecido. Para isso, pedia para o paciente abster de qualquer reflexão consciente para que as idéias (inconscientes) espontaneamente lhe ocorressem.
- Esse material não trazia à tona o que realmente foi esquecido, mas alusões que com auxílio da interpretação do analista, poderia adivinhar ou reconstituir o material esquecido. Desta maneira, associação livre e interpretação desempenhavam a mesma função da hipnose.
- Com a associação livre, descobriu-se que o trabalho de revelar o que havia sido patogenicamente esquecido estava sob a ação de fortes resistências, as quais mantinham os conteúdos reprimidos presos no inconsciente.
- Teoria da repressão: ação de forças que impedem o curso normal dos impulsos e de os tornarem conscientes, manifestando-se em caminhos fora do comum, como os sintomas. Os conteúdos reprimidos baseavam-se em ser grosseiro, proibidos ( como desejos sexuais. )
- Assim, Freud, ao estudar mais profundamente os desejos sexuais, constatou a existência de que experiências e conflitos dos primeiros anos da infância representam uma parte fundamental no desenvolvimento do indivíduo. Vale ressaltar a necessidade de ampliar o conceito de sexualidade para o além do senso comum.
- Freud resume os fatores para a constituição da teoria psicanalítica:
            a) ênfase na vida instintual (afetividade)
            b) dinâmica mental
            c) fenômenos mentais possuem um significado e causação
            d) teoria do conflito psíquico e da natureza patogênica da repressão
            e) sintomas constituem satisfações substitutas
            f) importância etiológica da vida sexual, inclusive infantil
            g) Complexo de Édipo, núcleo de todo caso de neurose
- Tal teoria provocou espanto, repugnância e ceticismo em estranhos, principalmente devido à constatação da existência do inconsciente, sexualidade infantil e a ênfase concedida ao fator sexual na vida mental.

III
- o estudo dos sintomas histéricos abriu caminhos para a psicanálise compreender o funcionamento do psiquismo “normal” e não só patológico. E isso, devido à vinculação de dois fenômenos:
            a) Parapraxias
            b) Sonhos
- Esses acontecimentos, assim como os sintomas, têm um significado ou surgem devido a uma intenção consciente com a qual interfere uma outra suprimida ou realmente inconsciente.
- Os sonhos podem parecer estranhos e sem sentido devido a uma deformação das forças censurantes. Porém, através da análise pode se revelar como expressão de uma satisfação ou realização de um desejo. Portanto, o sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido).
- Elaboração onírica é o trabalho de transformar (disfarçar) o desejo latente (secreto) em conteúdo manifesto (o que aparece no sonho).
- O estudo sobre os sonhos pôde proporcionar à psicanálise uma dupla significação:
            1) constituiu uma nova psicologia;
            2) reivindicou a atenção de todos que eram estudiosos de uma ciência mental            
- A teoria psicanalítica pôde provar que as mesmas forças e os mesmos processos que se realizam entre os sonhos operam tanto na vida mental moral quanto patológica.
- A psicanálise não foi recebida amistosamente ao mundo científico, pois submetia todo indivíduo à reação analítica por revelar aquilo que por acordo universal foi reprimido para o inconsciente.
- Apesar da resistência à psicanálise, ela teve uma expansão em duas direções:
            1) sobre o mapa;
            2) periódicos dedicados à psicanálise
- Na segunda década da psicanálise, Freud não estava mais sozinho. Tinha vários seguidores ao seu lado para difundir a teoria, além de ampliar, suplementar e conduzir para um maior aprofundamento.

IV
- No decorrer de seu desenvolvimento, a técnica psicanalítica se tornou tão definida e delicada quanto a qualquer outro ramo da medicina. Portanto, o analista necessita fazer uma formação especial. A fundação da primeira clínica psicanalítica, em Berlim, 1920, tornou-se um passo de grande importância prática para os novos analistas.
- Um dos primeiros conceitos hipotéticos a ajudarem no tratamento analítico é o da libido, que significa uma força dos instintos sexuais (sentido amplo exigido pela psicanálise) dirigidos a um objeto. Ao lado dessa libido objetal, Freud conceituou a libido narcísica que é dirigida ao próprio ego do indivíduo.
- Neurose de transferência (histeria e neurose obsessiva) constituem os objetos do objeto psicanalítico.
- Neurose narcísica (psicose) oferece dificuldades fundamentais à influência terapêutica.
- O estudo psicanalítico das neuroses constitui a única preparação para uma compreensão das psicoses.

V
- Além dos estudos sobre os sonhos, a psicanálise ainda precisava de outro passo para poder ser considerada como a teoria dos processos mentais mais profundos. Esse passo era a transição da psicologia individual para a de grupo.
- A principal força motivadora para o desenvolvimento cultural do homem foi a exigência de renunciar impulsos instituais impossíveis de ser socialmente satisfeitos. Assim, a psicanálise demonstrou que os impulsos instintuais sucumbiram a supressão cultural, sendo que uma parte deles são sublimados (buscam outra via de satisfação) e outra parte, persistem insatisfeitos no inconsciente, pressionando por alguma satisfação, ainda que deformada.
- Outra forma social está nas artes, contos, mitos. Freud percebeu que entre essas criações estão vinculadas com um inconsciente incompreensível, mas que podem ser interpretados como sonhos.
- Como um terceiro argumento, a psicanálise nos demonstrou a grande importância do Complexo de Édipo, uma relação emocional de uma criança com seus pais.

(Indicação do filme " Freud além da alma")

Março/2013 - Elaborado por Camila Sanzi e Karina de Queiroz Bueno, Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .

sábado, 2 de março de 2013

Conferência I (Introdução) – das Conferências Introdutórias à psicanálise – vol. XV Obras Completas de Sigmund Freud.



RESUMO - 1ª Unidade

 Conferência I (Introdução) – das Conferências Introdutórias à psicanálise – vol. XV Obras Completas de Sigmund Freud.
           
Nesta conferência, Freud apresenta as dificuldades encontradas pela psicanálise e, a partir destas, vai delimitando o seu campo de estudo e especificidade dentro das ciências para, em seguida, apontar sua relevância no tratamento das afecções psíquicas.
Inicialmente usa das dificuldades enfrentadas pelos pacientes neuróticos em análise para referir-se ao duro percurso que tem que ser seguido por aqueles que querem aprender como “efetuar uma investigação psicanalítica ou como realizar um tratamento”.
Desse modo, aponta que aos pacientes neuróticos em tratamento analítico devem ser esclarecidas: as dificuldades do método, sua longa duração, os esforços e sacrifícios que exige e a impossibilidade de promessa de êxito, já que esta depende da conduta, compreensão, adaptabilidade e perseverança do paciente. A analogia com os pacientes baseava-se numa forte resistência que os médicos – grande maioria de seu público - encontrariam frente à teoria psicanalítica, uma vez que estes possuíam outro paradigma sobre o conhecimento.
Contrapondo as duas disciplinas, médica e psicanalítica, Freud aponta as dificuldades no ensino e formação em psicanálise:

·         Na formação médica os alunos são preparados empiricamente para “ver” os fenômenos, como no precipitado de uma reação química, na contração de músculo e mesmo na apresentação de pacientes psiquiátricos com suas expressões faciais alteradas, modos de falar e comportar.

·         Na psicanálise o trabalho com um paciente resume-se num “intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista” e mesmo a apresentação de um paciente seria, para essa disciplina, inviável, pois “as informações que uma análise requer serão dadas pelo paciente somente com a condição de que ele tenha uma ligação emocional especial com seu médico; ele silenciaria tão logo observasse uma só testemunha que ele percebesse estar alheia a essa relação”.
Como não há verificação objetiva da psicanálise nem possibilidade de demonstrá-la, Freud oferece outros meios para sua apreensão:
·         Após um pouco de conhecimento da técnica, se poderia estudar alguns fenômenos mentais, muito comuns e amplamente conhecidos, em si mesmo. No entanto, há limites ao progresso por esse método.

·         Ser analisado por um analista experiente e vivenciar os efeitos da análise em seu próprio eu, assimilando de seu próprio analista a técnica mais sutil do processo.










Apontadas algumas dificuldades da psicanálise, Freud nos fala dos impasses da psiquiatria, cujo enfoque é encontrar “uma base anatômica para as funções do organismo e suas doenças, a fim de explicá-las química e fisicamente e encará-las do ponto de vista biológico”.
·         Desse modo, “as formas psicológicas do pensamento têm permanecido estranhas” à psiquiatria, que, descreve os distúrbios mentais que observa, e os agrupa em entidades clínicas;

·         Mas “nada se conhece da origem, do mecanismo ou das mútuas relações dos sintomas dos quais se compõem essas entidades clínicas”.
Postas as dificuldades apresentadas acima, a relevância da psicanálise está em preencher a lacuna deixada pela psiquiatria, a qual carece de uma base psicológica. No entanto, Freud adverte: “a psicanálise deve manter-se livre de toda hipótese que lhe é estranha, seja de tipo anatômico, químico ou fisiológico (...)”.
Freud prossegue com outras dificuldades da psicanálise, no entanto, estas são inerentes à humanidade, que considera algumas declarações da psicanálise como ofensas da ordem do intelectual e do estético/moral.
·         A primeira refere-se à declaração da psicanálise que “os processos mentais são, em si mesmos, inconscientes”. Essa declaração se coloca como uma ofensa intelectual, pois existe o hábito de se identificar o que é psíquico com o que é consciente e não sendo assim, a confiança do homem em sua autonomia e controle estariam abalados.

·         A segunda refere-se à declaração de que as pulsões sexuais desempenham importantes funções nas origens das doenças nervosas e mentais, mas também nas “mais elevadas criações culturais, artísticas e sociais do espírito humano”. Freud esclarece que, cada pessoa ao ingressar na sociedade sacrifica parte de suas pulsões em benefício de toda a comunidade. As pulsões sexuais desempenham um papel importante e nesse processo são sublimadas – isto é, desviadas das finalidades sexuais e dirigidas às produções socialmente elevadas. A pulsão sexual é uma ameaça à civilização caso não seja subjugada, por isso essa segunda declaração se coloca como ofensa do estético e moral, pois “a sociedade não quer ser lembrada dessa parte precária de seus alicerces. Não tem interesse em reconhecer a força das pulsões sexuais, nem interesse pela demonstração da importância da vida sexual para o indivíduo”.

Março/2013 - Elaborado pela Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .